EDITORIAL
DOI:
https://doi.org/10.17648/raoit.v2n1.3586Resumo
A primeira edição da revista, no ano de 2007, apresenta uma interessante característica: coincidentemente, temos a contribuição de pesquisadores das universidades portuguesas de Coimbra e Aveiro. Publicamos esses estudos em um momento em que a participação da Europa entre os turistas que visitam o Brasil torna-se crescente, como constatado no artigo “Uma análise da dinâmica da indústria do turismo no Brasil”. A importância do planejamento turístico, sob diferentes enfoques, também aparece nos artigos aprovados. Esperamos que os resultados dessas reflexões, constatadas de modo cada vez mais recorrente na academia, possam contribuir para os profissionais que atuam no setor de turismo.
Fernando Guilherme Tenório — professor e coordenador do Programa de Estudos em Gestão Social da EBAPE-FGV — é nosso entrevistado nesta edição e discorre sobre dois conceitos antagônicos: gestão estratégica e gestão social. Com base no entendimento da gestão social, aponta questões, como os impactos sociais do turismo e as parcerias estabelecidas entre o poder público e o privado para minimizar tais impactos, ressaltando seus possíveis riscos. Comenta a importância da participação da comunidade na elaboração e implementação de políticas públicas e menciona os instrumentos legais para garanti-las. Discute, de forma crítica, o papel do terceiro setor e apresenta os aspectos positivos e negativos da responsabilidade social corporativa.
A análise da dinâmica da indústria do turismo no Brasil é tema do artigo de Filipe Sobral, Alketa Peci e Gustavo Souza. A técnica shift-share, já usada, na área turística, em outros países do mundo, consiste em desagregar os componentes de crescimento de uma variável para avaliar o seu comportamento. Os autores utilizaram dados do United Nations Statistical Yearbook para entender o crescimento do turismo no Brasil por meio dos efeitos dos componentes: i) área; ii) região; iii) competição e iv) alocação. As conclusões apontam desafios aos formuladores de políticas públicas. Identificam-se, pois, a necessidade de um enfoque integrado e a utilização de uma abordagem estratégica que inclua as variáveis de imagem, especialização e vantagens competitivas, por exemplo. Ao final, os autores apresentam oito recomendações para melhorar o posicionamento do Brasil no mercado turístico.
Éricka Almeida e Carlos Costa discutem a necessidade do planejamento do setor de turismo nos municípios brasileiros de pequeno e médio porte, utilizando uma pesquisa com 43 profissionais de turismo e órgãos públicos ligados ao setor para avaliar aspectos técnicos, financeiros e políticos. Confirmam-se algumas hipóteses, como a falta de conhecimento técnico-científico dos profissionais que atuam nas secretarias municipais de turismo, e as respostas às questões relativas à disponibilidade de recursos financeiros geram surpresas. Nas conclusões, os autores verificam, com base na opinião dos respondentes, que a variável política é o fator determinante da baixa incidência de planejamento. Fundamentadas nesse diagnóstico, apresentam-se algumas propostas de melhoria, como a revisão dos conteúdos dos cursos de turismo com vistas a permitir que se melhore a formação de futuros profissionais que atuarão na área de planejamento.
Rosana Mara Mazaro realiza uma análise crítica das propriedades de quatro modelos de competitividade para destinos turísticos, considerando a importância da sustentabilidade. Observa as motivações para o desenvolvimento, os objetivos, os aspectos metodológicos, as dimensões de sustentabilidade, os principais fatores e os impactos dos modelos. Destaca que, cada vez mais, nos destinos turísticos, adota-se uma perspectiva estratégica que alia interesses de marketing com uma visão de desenvolvimento turístico mais amplo, combinada a ações de longo prazo.
O planejamento também é tema do estudo de Altamiro Bessa e Luiz Antônio Teixeira. O foco do artigo está na importância do planejamento e da gestão de intervenções urbanas para o desenvolvimento de destinos turísticos. Os autores identificaram estratégias empreendidas por grandes centros turísticos internacionais. Assim, citam 14 cidades agrupadas em oito pilares. Para que se avalie se os destinos alcançaram os objetivos propostos e se revelem quais os resultados da adoção das estratégias escolhidas, apresentam dez dimensões que devem ser observadas. O modelo criado agrupa as dimensões de análise em: i) recursos turísticos; ii) motivações e iii) estratégias. Com base nesse exame, estimam-se a situação gerada e os resultados obtidos. A grande contribuição do artigo é apresentar um modelo que auxilie os destinos turísticos a desenvolver estratégias de intervenções urbanas.
Ana Valéria Endres encerra a seção de artigos, apresentando as práticas ecoturísticas no Jardim Botânico Benjamim Maranhão (PB) e objetivando mostrar que o planejamento turístico, em bases sustentáveis, deve ser a meta dos gestores de áreas naturais protegidas. A autora realizou pesquisas de campo e avaliou aspectos, como a infra-estrutura de visitação e a capacidade de carga. Para que se realize um planejamento verdadeiramente sustentável, contudo, ressalta a necessidade de se observarem os aspectos externos à área em questão. As relações interinstitucionais e as condições de vida da comunidade da área do entorno são alguns dos aspectos citados como importantes para uma gestão integrada.
A primeira resenha bibliográfica de um livro em inglês — The experience economy: work is theatre & every business a stage —, apresentado por André Coelho e Letícia Ribeiro, traz um tema em desenvolvimento na academia que merece ainda maiores reflexões e debates.
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