TENSÕES VIVIDAS POR UMA PROFESSORA FRENTE A UMA QUESTÃO SOCIOCIENTÍFICA: ABERTURA ÉTICA DA VIDA VERSUS ACABAMENTO TEÓRICO ESCOLAR

Resumo

O presente estudo de caso investigou a mediação do planejamento didático feito por uma professora de química do ensino médio para abordar o aquecimento global contextualizado como questão sociocientífica (QSC) controversa. Objetivou-se caracterizar a tensão da docente ao administrar sua intenção de possibilitar aos estudantes posicionamentos éticos diversos versus a necessidade imposta pela escola de dar acabamento ao fenômeno, visando didatizá-lo e avaliá-lo numa sequência de ensino. Como referencial teórico-metodológico do trabalho fora proposto aspectos da moral e linguagem em Mikhail Bakhtin, por abarcarem tais tensões como constitutivas do humano e possíveis de serem indiciadas nos discursos. Como resultados, notaram-se tensões explícitas em turnos únicos, ora assegurando que o aquecimento global teria o acabamento teórico mínimo frente às incertezas, ora assegurando que ofereceria a abertura ética mínima frente às certezas. Notou-se que a professora usa conhecimentos sobre natureza da ciência, linguagem e poder para provocar os estudantes à não paralisia em seus acabamentos teóricos. Embora as controvérsias da QSC tivesse sido planejadas como contexto, o objetivo de ensinar conteúdos conceituais e a tradição didática do que conta como “matéria”, reduziu as polêmicas epistêmicas a um pré-texto inicial para o ensino significativo. Avaliam-se cenários alternativos para as atividades de síntese da sequência, visando estimular a tomada de consciência sobre o teoricismo e a emergência do pensamento participativo para se dizer em 1ª pessoa. Sugerem-se estudos que versem sobre as tensões investigadas em outras QSC e com outros públicos, além de recomendar o não acabamento das vozes dissonantes nas QSC controversas.