CONSEQUÊNCIAS DO RACISMO NA TRAJETÓRIA DE ESTUDANTES NEGROS QUE CONVIVEM COM A DOENÇA FALCIFORME NO BRASIL

Autores

Palavras-chave:

Doença Falciforme, Políticas Educacionais, Racismo

Resumo

Este artigo tem como objetivo problematizar, a partir de uma perspectiva metodológica exploratória e com base em relatos de experiências, os atravessamentos do racismo no acesso à educação por parte de estudantes negros que convivem com a doença falciforme. Em suma, consideramos o racismo um sistema de opressão que resultou em um processo histórico marcado pela invisibilização e subalternização de pessoas negras ao longo da formação social brasileira. Vale frisar que o racismo é especialmente marcante e perverso na trajetória de indivíduos com doença falciforme porque esta enfermidade acomete predominantemente pessoas negras. Dessa forma, as reflexões presentes neste artigo apontam que as pessoas negras com doença falciforme não são adequadamente acolhidas nos espaços escolares, além de que as estratégias didático-pedagógicas normalmente não estão adaptadas à realidade vivenciada por essas pessoas. Adicionalmente, o tema e as próprias especificidades da doença falciforme são frequentemente ignorados nos currículos dos estabelecimentos escolares. Sendo assim, as principais conclusões do estudo apontam para a urgência de que sejam instrumentalizadas políticas educacionais voltadas às pessoas com doença falciforme, com o propósito de que esses sujeitos tenham os seus direitos plenamente resguardados.

Biografia do Autor

Natália Borges Ferreira da Silveira, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ)

Possui graduação em Serviço Social pela Escola de Serviço Social (ESS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua profissionalmente como Assistente Social da Prefeitura Municipal de Piraí, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Cursa mestrado pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Relações Étnico-Raciais (PPRER) do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ). Desenvolve pesquisas sobre o tema da doença falciforme, com ênfase para a perspectiva das políticas públicas e das relações étnico-raciais.

Dyego de Oliveira Arruda, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ)

Doutor em Administração de Organizações pela Universidade de São Paulo (USP). É professor do quadro permanente do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), lecionando em cursos de graduação e no Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais (PPRER/Cefet-RJ). Atua também como professor permanente (externo) do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPED/UFRJ). Possui experiência e interesse nos seguintes temas de pesquisa: políticas públicas e ações afirmativas; políticas de cotas; raça, racismo e diversidade em contextos organizacionais.

Referências

ABADFAL - Associação Baiana das Pessoas com Doença Falciforme. Doença falciforme: a importância da escola! 2013. Disponível em: http://www.saude.salvador.ba.gov.br/arquivos. Acesso em 04 fev. 2025.

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Jandaíra, 2019.

ARRUDA, Dyego de Oliveira; SANTOS, Caroline Oliveira. A necropolítica e o extermínio dos corpos negros em tempos de Covid-19 no Brasil. Revista Nau Social, v. 12, n. 23, p. 821-833, 2021.

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

BRASIL. Lei nº 12,288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, n. 138, seção 1, p. 1, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Diagnóstico e Tratamento de doenças falciformes. Brasília: ANVISA, 2002.

COSTA, Gracyelle. Assistência Social, no enlace entre a cor e gênero dos (as) que dela necessitam. O Social em Questão, n. 38, p. 227-246, 2017.

DIAS, Luciano; CANAVÊZ, Fernanda. Racismo e ascensão social do negro na democracia brasileira. Psicologia em Pesquisa, v. 16, n. 1, p. 1-24, 2022.

FERREIRA, Reginaldo; GOUVÊA, Cibele Marli Caçao Paiva. Recentes avanços no tratamento da anemia falciforme. Revista Médica de Minas Gerais, v. 28, p. 1–6, 2018.

FIGUEIREDO, Ângela; GROSFOGUEL, Ramon. Racismo à brasileira ou racismo sem racistas: colonialidade do poder e a negação do racismo no espaço universitário. Sociedade e Cultura, v. 12, n. 2, p. 223-234, 2009.

GELEDÉS. Desigualdade racial na educação brasileira: um Guia completo para entender e combater essa realidade. 2020. Disponível em: https://www.geledes.org.br/desigualdade-racial-na-educacao-brasileira-um-guia-completo-para-entender-e-combater-essa-realidade/. Acesso em 4 fev. 2025.

GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio Janeiro: Zahar, 2020.

GUERRA, Nathalia Ester Martins et al. O racismo institucional na universidade e consequências na vida de estudantes negros: um estudo misto. Ciência & Saúde Coletiva, v. 29, n. 3, p. 1-10, 2024.

KIKUCHI, B. A. Anemia Falciforme: manual para agente da educação e saúde. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora Health, 2003.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

LIRA, Altair. Doença falciforme: invisibilidade e racismo nas práticas de cuidado. In: PINHEIRO Roseni et al. (Orgs). Amor mundi, políticas da amizade e cuidado: a integralidade e a polifonia do cotidiano da saúde. Rio de Janeiro: FGB/Pembroke Collins; 2019. p. 143-149.

MADEIRA, Z; GOMES, D. D. Persistentes desigualdades raciais e resistências negras no Brasil contemporâneo. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, v. 146, n. 133, p. 463-479, 2018.

MAIA, Viviane Queiroz de Oliveira et al. Conhecimento de educadores sobre doença falciforme nas escolas públicas de Montes Claros – MG. Revista Médica de Minas Gerais, v. 23, n. 3, p. 282-288, 2013.

NASCIMENTO, Abdias. O Genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2016.

NETO, Gentil Claudino de Galiza; PITOMBEIRA, Maria da Silva. Aspectos moleculares da anemia falciforme. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 39, n. 1, p. 51-56. 2003.

PEREIRA, Larissa Karoline; MASTRODI NETO, Josué. Racismo, necropoder e a normalização da letalidade policial. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 202, n. 202, p. 247-266, 2024.

RICCA, Ilca Maria do Carmo. Eu também sou uma mulher: os direitos reprodutivos de mulheres negras na política de doença falciforme do estado do rio de janeiro. 109f. Dissertação (Mestrado em Relações Étnico-Raciais) – Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, 2024.

SANTOS, Ynaê Lopes dos. Racismo brasileiro: uma história da formação do país. São Paulo: Todavia, 2022.

SILVA, Diego Francisco Lima da et al. Para além do Racismo Institucional? Uma análise do conteúdo da Política de Saúde para a População Negra. Ciência & Saúde Coletiva, v. 28, n. 9, p. 2527- 2535, 2023.

SILVA, Flavia Cristina; GUEDES, Olegna de Souza. Expressões da desigualdade racial na política de previdência social: uma análise a partir do acesso a direitos previdenciários no município de Rolândia‐PR. Serviço Social em Revista, v. 20, n. 2, p. 103‐122, 2018.

SILVA, Nelson do Valle; HASENBALG, Carlos Alfredo. Relações raciais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1992.

Downloads

Publicado

2025-02-18

Como Citar

Ferreira da Silveira, N. B., & Arruda, D. de O. (2025). CONSEQUÊNCIAS DO RACISMO NA TRAJETÓRIA DE ESTUDANTES NEGROS QUE CONVIVEM COM A DOENÇA FALCIFORME NO BRASIL. Revista Magistro, 1(29), 1–17. Recuperado de https://publicacoes.unigranrio.edu.br/magistro/article/view/9129

Edição

Seção

Artigos