CORPOS EM FUGA NA DRAMATURGIA DO TEATRO NEGRO-BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

Resumo

O presente artigo tem por objetivo a análise da presença do corpo negro na dramaturgia do teatro negro-brasileiro contemporâneo. Para tanto, fora escolhida como objeto de análise a peça Buraquinhos ou o vento é inimigo do Picumã, da autoria de Jhonny Salaberg. Encenada pelo coletivo paulista Carcaça de Poéticas Negras, a obra tematiza a experiência traumática do genocídio da população jovem, negra e periférica no Brasil. Em um primeiro momento, discutimos a questão do genocídio negro com o auxílio das reflexões de Achille Mbembe, contidas no ensaio Necropolítica (2018), pondo-o em diálogo com outros teóricos como Silvio Almeida (2019) e Sueli Carneiro (2011). Em seguida, analisamos a peça considerando como principais pontos de observação crítica: 1. a presença da corporeidade negra no espaço cênico; 2. a constituição de uma identidade racializada, identificada com os valores basilares do universo afro-brasileiro; e 3. o local de onde se origina a fala da personagem negra. À guisa de conclusão, entendemos que o teatro negro-brasileiro, tendo em vista a análise dos três vetores apresentados, constitui-se como um poderoso instrumento de construção e reafirmação de identidades, valorizando o corpo negro enquanto elemento estético capaz de produzir um teatro de forte orientação política, promovendo a resistência do povo negro frente às opressões cotidianas.