MEMÓRIAS FEMININAS NEGRAS: decolonizar é contar a história que os livros não contam
Palavras-chave:
Literatura decolonial, literatura afro-brasileira, autoria feminina.Resumo
O presente trabalho visa apresentar uma reflexão acerca do romance O crime do Cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz, denominado pela própria autora como romance histórico-policial. Além do conteúdo do romance estar alinhado ao pensamento decolonial, a incursão da autora na ficção detetivesca também é significativa já que ela se apropria de uma literatura que nasceu e tem maior tradição em países anglófonos e que por muitos anos representou e reproduziu a ideologia europeia burguesa. Sob o aporte teórico de autores como Conceição Evaristo (2017a), Françoise Vergès (2022), Lilia Moritz Schwarcz (2019) e Lélia Gonzalez (2020), defendemos a ideia de que o referido romance interpela a História oficial de modo que se pretende investigar no livro a nossa ancestralidade, a história apagada e/ou silenciada e a memória dos africanos escravizados, resgatando o que ficou perdido no processo de imposição do poder colonialista. Partindo de um assassinato, o detetive de O crime do Cais do Valongo nos revela as mazelas de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade: a escravidão.